O Relacionamento Abusivo é aquele marcado pelo uso incorreto ou ilegítimo da força, e pelo uso excessivo ou imoderado de poderes, geralmente infligido por um dos cônjuges, sobretudo pelo homem, mediante uso de violência (verbal, moral/psicológica e/ou física).
Trata-se de um fenômeno antigo e tributário do sistema social patriarcal, no qual a mulher ocupa um lugar preterido na cultura e na sociedade. A desigualdade entre os gêneros, longe de ser natural ou biológica, é posta pela tradição cultural e pelas estruturas de poder.
Essa disparidade entre homens e mulheres são endossadas cotidianamente por ditos populares como
“Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”
“É mulher de malandro, gosta de apanhar”
“Se você me largar, ninguém vai te querer”
Vê o outro com sua propriedade e quer controlar todos os seus passos. Vigia suas amizades, lazer, finanças e perfis de redes sociais.
Se impõe o tempo todo, grita, ofende, xinga e busca controle pela intimidação.
Não deixa o outro expressar sua opinião ou sentimento. Humilha o outro em particular ou em público.
Tenta isolar o outro do convívio com a família e com os amigos. Sozinha, a pessoa fica mais fragil e tem mais dificuldade para sair do relacionamento.
Usa frases como “eu me descontrolo porque te amo muito”, “eu só faço essas coisas porque você insiste em usar essa roupa/ conversar com aquela pessoa”, “se você me deixar, eu sou capaz de fazer uma besteira”
Inverte e faz o outro se sentir culpado
Quando contrariado, pune o outro. Pode deixar de conversar, privar de dinheiro, de sexo ou excluir o outro de atividades comuns.
Alterna agressividade com afetuosidade e pedido de perdão.
O relacionamento abusivo é uma das expressões da violência contra a mulher, um grave e amplo problema do Brasil. Dados são da pesquisa DataFolha de 02/2019 (reportagem) mosram que nos últimos 12 meses
1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento
22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio.
Grande parte das mulheres que sofreram violência dizem que o agressor era alguém conhecido (76,4%).
Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico.
Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda.
Ao contrário do que possa aparecer, os relacionamentos abusivos não apresentam apenas agressividade. Ocorrem sentimentos ambivalentes de amor e ódio. Fases de agressividade crescente costumam se alternar com fases de conciliação, com afeto e com promessas de mudança. Muitas vítimas, inclusive, afirmam amar seus agressores e relevar as agressões para preservar o relacionamento e com esperança de melhora.
As fases agressivas tendem a surgir cada vez mais graves. Podem começar com demonstração excessiva de ciúmes, com discussões, seguir com agressões verbais e morais e culminar com agressões físicas e sexuais, ameaças de morte e até mesmo com homicídio.
Há de se ressaltar que, nos casos de relacionamento abusivo, as mulheres não são cúmplices, pois estão em situação de disparidade de poder. Ao contrário, ceder à violência, não significa consentir com a violência. Muitas vezes, essas mulheres ficam acuadas e paralisadas nesse tipo de relacionamento.
Observa-se ainda o ciclo cultural e geracional dessa violência, que vem se reiterando na sociedade. Os padrões violentos presenciados em casa na infância podem ser naturalizados e reproduzidos na vida adulta. Os meninos podem desempenhar futuramente um papel social baseado numa masculinidade violenta, cuja manifestação pode ser um comportamento de dominação sobre suas parceiras. E as meninas podem repetir o padrão de submissão.
A punição se mostra insuficiente para fazer frente ao problema dessa violência. Além dessas iniciativas de endurecimento das punições, temos que promover uma abordagem cultural visando superar determinados padrões de gênero, que se reproduzem nos relacionamentos. Dispositivos como escolas e mídia podem ser usados para promover educação e debate público.
Além dessa abordagem geral, a mulher vítima de relacionamento abusivo deve procurar ajuda psicológica para elaborar e buscar soluções. Se necessário, ela pode acionar delegacias especializadas da mulher, onde houver, ou delegacias comuns nas demais localidades.
A abordagem do homem também é fundamental para revermos papeis culturais em que a masculinidade está associada a agressividade. Esse padrão masculino influencia diretamente padrões de relacionamento rígidos e violentos – que causam sofrimento, disfuncionalidade e danos. Para tanto, o homem também deve ser alvo das políticas públicas e pode se beneficiar de tratamento psicológico.
Para aprofundar nesse debate
Assista a entrevista com a participação de nosso psicólogo Victor Cruz
https://youtu.be/_nTx5yPpn2U
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